Um apelo à verdade histórica, à fé cristã e à preservação da identidade nacional
No passado 10 de Junho, por ocasião das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, Sua Excelência o Presidente da República, Professor Doutor Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, proferiu, perante a Nação e o mundo, a seguinte afirmação: “não há quem possa dizer que é mais puro ou mais português do que outro”. Dita no mais solene dos dias nacionais, essa frase não foi apenas infeliz, foi uma afronta. Um atentado ao bom senso, à verdade histórica e à dignidade de todos os portugueses que, com honra e sacrifício, carregam no peito a herança de mil anos de civilização.
Com o devido respeito, cumpre-me afirmar de forma clara e sem ambiguidades: as palavras de Vossa Excelência foram pouca dignas do mais alto dignitário da Nação e uma ofensa intolerável à identidade histórica, moral e cristã de Portugal. Por essa razão, não apenas merecem o meu mais firme repúdio assim como um pedido de desculpas público ao povo português.
Portugal não se construiu por acaso nem por acidente geográfico. Portugal construiu-se na fidelidade a valores concretos e eternos. A fé cristã, a coragem militar, o respeito pelas tradições, a centralidade da família, a honra da palavra dada, o culto da verdade histórica, o amor à terra e o dever para com os que nos antecederam. Reduzir a portugalidade a uma abstração indiferenciada, como Vossa Excelência o fez, é contribuir ativamente para o seu apagamento.
Ouvi as suas palavras com espanto, tristeza e indignação. E não falo apenas por mim. Milhares de portugueses dentro e fora das fronteiras sentiram-se traídos por quem tem o dever de representar a Nação. Porque negar a existência do português puro, ainda que no plano simbólico, é negar o que há de mais nobre na alma nacional: a consciência de uma herança que nos obriga, que nos forma e que nos transcende.
O português puro não é um delírio racial, como certos sectores apressadamente tentarão caricaturar. É isso sim, um ideal moral e espiritual que nada tem de exclusão e tudo tem de fidelidade. É aquele que honra os símbolos da Pátria, que reza no idioma dos seus antepassados, que se ajoelha diante do Sagrado, que respeita os mortos, que educa os filhos no amor à verdade e que não vende a identidade nacional em troca de modas sociológicas ou agendas internacionalistas.
O Professor Doutor Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, ao escolher o palco do 10 de Junho para negar a existência do português puro, feriu a alma da Nação. E fê-lo num momento histórico em que Portugal precisa mais do que nunca, reencontrar os seus alicerces, reafirmar a sua soberania e proteger os seus valores. As suas palavras não foram de inclusão, foram de renúncia, de rendição e de descaracterização.
Portugal não é uma invenção multicultural nem um laboratório social. Portugal é uma Nação católica, europeia, milenar, que se fez no combate e na fé, na língua e no sangue. A portugalidade é uma realidade concreta, com raízes profundas, que não admite revisionismos nem cedências ao politicamente correto.
Como cidadão português, como antigo Cônsul ad-honorem de Portugal no Estado da Florida e como homem que vive com orgulho e sentido de missão a condição de ser português, não posso silenciar o meu repúdio. O que está em causa não é apenas uma frase. É uma tendência ideológica perigosa que visa dissolver o que resta da nossa identidade coletiva.
Os portugueses puros existem. São os que não vergam diante das modas. São os que defendem a fé que os formou, a História que os explica e a cultura que os sustenta. São os que vivem por Portugal e não apenas em Portugal. São os que compreendem que ser português é mais do que possuir um cartão de cidadão. É carregar no coração e na conduta uma fidelidade que não se negocia.
A Vossa Excelência, Senhor Presidente Professor Doutor Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, exije-se o que se exige a qualquer homem de Estado que falha gravemente com o seu povo. Que reconheça o erro, que se retrate publicamente e que peça desculpa ao povo português.
Porque Portugal merece mais é melhor. Porque os portugueses exigem respeito. E porque quem nega a sua identidade perde o direito de a representar.
César DePaço
Empresário, cidadão português
Cônsul ad-honorem de Portugal no Estado da Florida (2014–2020)