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Na minha opinião, a claridade contínua do sol não é índice de vitalidade nem de progresso. A luz constante embala o espírito e favorece ilusões. O carácter verdadeiro forma-se sob o peso do céu cinzento, na densidade das nuvens carregadas, no vento agreste que açoita, na chuva que purifica e na tempestade que desperta. O céu cinzento não traduz decadência, mas antes disciplina, ordem e perseverança, virtudes sem as quais nenhuma sociedade pode subsistir.


Sigmund Freud ensinava que a melancolia, longe de ser apenas enfermidade, pode constituir estado de consciência mais lúcido do que a euforia artificial. Assim acontece também com as civilizações. Quando se deixam seduzir por festividades contínuas e por símbolos efémeros, afastam-se da realidade. Quando aceitam a sobriedade dos dias cinzentos, conservam a vigilância do espírito e permanecem aptas a enfrentar as exigências do destino.

A história ensina que os instantes de maior grandeza humana não nasceram do conforto, mas da dureza do tempo. O Império Romano não se edificou em festividades, mas em disciplina e fidelidade; a Cristandade medieval não sobreviveu por frivolidades, mas por tradição e continuidade. As comunidades que floresceram foram aquelas que souberam cultivar disciplina, fidelidade e continuidade cultural. A sociedade contemporânea, fascinada pelo brilho multicolor e pelas modas transitórias, substitui a substância pelo ornamento, a tradição pelo desvario cultural e a permanência pela fragmentação.

O arco-íris, elevado a bandeira de ideologias importadas, converteu-se em sinal de desfiguração da sociedade.

Desfiguração porque rompe a transmissão natural dos valores entre gerações, interrompe a herança moral e introduz uma inversão da ordem. Onde antes reinava a família como fundamento, instala-se o experimentalismo dissolvente; onde vigorava a fidelidade, prolifera a frivolidade; onde existia tradição, aparece a dispersão.

O perigo não reside apenas nos símbolos, mas no espírito que eles difundem. A obsessão pela cor efémera conduz inevitavelmente à decadência, porque habitua os homens à superficialidade. Em vez de se reforçar a raiz sólida, exalta-se a flor passageira. Em vez de se consolidar a unidade moral, multiplicam-se falsas identidades que dividem. É a ruptura silenciosa da continuidade cultural.

A tempestade, ao contrário do sol, purifica. A chuva limpa, o vento dissipa, o trovão desperta. Assim também a sociedade necessita de tempestades que a reconduzam ao essencial. Necessita de disciplina, de coesão e de fidelidade a princípios intemporais que não se rendem perante modas transitórias. A verdadeira liberdade não consiste em viver ao sabor das ilusões, mas em ordenar a existência segundo a verdade e a herança recebida.

Na minha opinião, a sociedade contemporânea carece de menos arco-íris e de mais céu cinzento. Carece de menos desfigurações culturais e de maior continuidade moral. Carece de menos exaltação de promessas efémeras e de maior enraizamento em valores eternos. A claridade constante embala, mas não fortalece. As cores artificiais seduzem, mas não edificam. O frio, a sombra e a chuva recordam que o destino humano cumpre-se no sacrifício, na coragem e na fidelidade ao que permanece.

Que o céu cinzento não seja interpretado como sinal de desalento, mas como apelo à lucidez. Que a tempestade cultural que atravessamos se compreenda não como ameaça, mas como purificação. Que a sociedade reencontre a sua rota, não pela submissão a bandeiras multicoloridas que representam desfiguração moral, mas pela firmeza da disciplina, pela honra da tradição e pela fidelidade à herança perene da civilização. Só assim, na sobriedade do céu cinzento, se poderá preparar a alvorada de uma nova grandeza humana.

César DePaço
Empresário e Filantropo
Cônsul ad honorem de Portugal (2014 a 2020)
Fundador e CEO da Summit Nutritionals International Inc.
Presidente da Fundação DePaço
Defensor incondicional das Forças de Segurança e dos Princípios Conservadores


Fonte: LusoAmericano