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César DePaço

O gestor e empresário radicado nos EUA, e CEO da Summit Nutritionals, César DePaço, assume alguns dos princípios que hoje sustentam a política do Presidente Donald Trump. O gestor refere que as tarifas alfandegárias “são um instrumento legítimo de defesa económica e não uma penalização para o consumidor”. Defende ainda uma aliança tática entre os EUA e a Rússia para conter a influência da China. O recente acordo entre os EUA e a China quanto a tarifas resulta de um “entendimento técnico, não político”.

Sobre a Europa, refere que o parceiro económico está paralisado “por uma teia burocrática, politicamente fragmentada e moralmente hesitante”. Por último, acredita que “a globalização desenfreada e sem fronteiras está a desmoronar-se”.

 

Vida Económica – Perante os últimos acontecimentos geopolíticos mundiais em que a Administração Trump está envolvida, como o conflito Israel-Hamas e o conflito Israel-Irão, como está a reagir o eleitorado norte-americano?

César DePaço – O eleitorado norte-americano que apoia o Presidente Trump tem reagido com serenidade e lucidez. A solidariedade com Israel é total, assim como a rejeição inequívoca ao terrorismo e ao extremismo islâmico. Contudo, é igualmente claro que a América não deve voltar a sacrificar vidas nem recursos em conflitos que não representam ameaça direta à sua segurança. O Presidente Trump defende uma América forte, respeitada e soberana, que não se curva perante agendas externas nem histerias mediáticas. O povo americano compreendeu essa visão e não tolera mais guerras sem justificação estratégica. Concordo, em absoluto, com essa posição.

 

VE – E como estão a reagir os empresários que trabalham nos EUA?

CP – Os empresários norte-americanos com visão realista e conservadora reagem com prudência, mas também com confiança na liderança do Presidente Trump. A instabilidade no Médio Oriente é uma preocupação legítima, sobretudo no domínio energético, mas há um entendimento crescente de que a demonstração de força foi necessária para restaurar a ordem. O mundo empresarial valoriza previsibilidade e autoridade, e a doutrina Trump oferece ambos. Os líderes que compreendem o valor da segurança reconhecem que, sem respeito internacional, não há prosperidade económica. Por isso, apoiam o rumo traçado.

 

VE – Os EUA querem manter-se como “polícia do mundo” ou a estratégia é conter a ascensão da China?

CP – Os EUA não querem – nem devem – manter-se como polícia do mundo. Essa conceção pertence a um passado em que liderança era confundida com intervenção permanente. A doutrina Trump assenta na soberania nacional, na dissuasão e na contenção racional. A verdadeira prioridade dos EUA é, hoje, conter a ascensão da China comunista, cuja ameaça é tanto económica como civilizacional. O foco deve estar no Indo-Pacífico, na superioridade tecnológica e na defesa dos setores estratégicos. A liderança americana precisa de ser firme, mas sensata, e não submissa a alianças dispendiosas e desproporcionadas.

 

VE – É possível uma aliança EUA-Rússia para conter a índole expansionista da China?

CP – Uma aliança tática entre os EUA e a Rússia para conter a China é, do ponto de vista geopolítico, não só possível como desejável. Ambos os países reconhecem que o regime de Pequim representa a mais séria ameaça à ordem internacional. Infelizmente, décadas de hostilidade ideológica alimentada pelas administrações democratas têm dificultado esse entendimento. O Presidente Trump sempre defendeu uma abordagem pragmática, centrada nos interesses nacionais. Com realismo estratégico, essa aproximação poderá revelar-se decisiva para reequilibrar o mundo.

 

VE – A impossibilidade de criar condições diplomáticas entre a Rússia e a Ucrânia para uma paz duradoura pode significar que os presidentes Trump e Putin têm um interesse comum?

CP – A ausência de uma paz duradoura entre a Rússia e a Ucrânia resulta, sobretudo, da instrumentalização deste conflito por parte do Ocidente globalista. Tanto Trump como Putin reconhecem que esta guerra já perdeu qualquer justificação estratégica e serve apenas interesses obscuros. Trump afirmou, com clareza, que, sob a sua liderança, o conflito teria sido resolvido com firmeza, diálogo e ausência de ideologia. O que os aproxima não é afinidade política, mas um interesse comum na restauração da estabilidade e da soberania nacional como base de qualquer paz verdadeira.

 

VE – A história das taxas alfandegárias e eventuais repercussões a nível de inflação está a ser compreendida pelos norte-americanos?

CP – Sim, e cada vez com maior clareza. A propaganda segundo a qual as tarifas provocariam inflação foi construída por elites globalistas que enriqueceram com a deslocalização da produção e o empobrecimento das classes médias. O Presidente Trump demonstrou que as tarifas são um instrumento legítimo de defesa económica e não uma penalização para o consumidor. Pagar menos por produtos fabricados por mão de obra explorada não é progresso, mas decadência. A América e a Europa começam a perceber que o protecionismo racional é uma forma de soberania e não de atraso.

 

VE – O que significam as exigências de maiores taxas alfandegárias? A necessidade de reequilibrar as contas públicas norte-americanas?

CP – As tarifas não têm como finalidade primeira o reequilíbrio orçamental, mas sim a defesa da economia nacional. Corrigem injustiças históricas e combatem a concorrência desleal de países que exploram mão de obra e violam normas básicas de produção. Naturalmente, ao recuperar a indústria e proteger o emprego, amplia-se a base tributária e alivia-se a carga sobre o Estado. Portanto, as tarifas não são um imposto, mas um ato de soberania económica.

 

VE – O acordo feito com a China significa que existe entendimento político e económico entre os dois países?

CP – Não. O acordo firmado com a China é um entendimento técnico, não político. Serve para conter momentaneamente uma escalada, não para aproximar modelos. Os EUA querem corrigir desequilíbrios comerciais históricos. A China negocia por conveniência, não por convicção. Nenhum acordo com um regime totalitário deve ser interpretado como sinal de confiança duradoura.

 

VE – Por que é mais difícil negociar com a Europa do que com a China a nível de taxas alfandegárias?

CP – Porque a Europa está hoje paralisada por uma teia burocrática pesada, politicamente fragmentada e moralmente hesitante. A China, embora autoritária, negocia com clareza de objetivos. A Europa, dominada por uma visão pós-nacional, recusa-se a agir com firmeza, preferindo o simbolismo ideológico à defesa concreta dos seus interesses. Os EUA, sob a liderança de Trump, negociam como nação soberana. A Europa, muitas vezes, como entidade indecisa.

 

VE – O mundo vai deixar de estar globalizado?

CP – Não deixará de estar interligado, mas a globalização desenfreada e sem fronteiras está a desmoronar-se. O que se impõe é uma nova ordem, onde o comércio respeite a soberania e a dignidade das nações. A pandemia e os conflitos recentes demonstraram os riscos da dependência cega. O futuro será de comércio responsável, não de submissão produtiva.

 

VE – Quais as diferenças entre trabalhar nos EUA e na Europa?

CP – Nos EUA, impera a cultura de mérito, de esforço e de ascensão pelo desempenho. A iniciativa é premiada e o fracasso é tolerado como etapa de crescimento. Na Europa, prevalece ainda uma mentalidade burocrática, que asfixia o mérito e inibe a mobilidade. A estabilidade é valorizada acima da ambição. Trabalhar na América é ser responsável pela própria sorte. Trabalhar na Europa é, muitas vezes, depender do sistema.

 

VE – Que papel deve ter Portugal na União Europeia? Em que áreas se pode especializar num contexto geopolítico de guerras que estão dentro da Europa?

CP – Portugal deve assumir um papel de utilidade e sobriedade. Sem protagonismos teatrais, mas com firmeza nos interesses próprios. A sua vocação atlântica, a estabilidade política e a herança diplomática permitem-lhe afirmar-se na segurança marítima, na ciberdefesa e como ponte natural entre a Europa e o espaço lusófono. Portugal deve ser uma voz serena, mas determinada, na preservação da ordem.

 

VE – Em termos políticos, a ascensão da direita na Europa, a par dos EUA, o que significa em termos de mudança sociocultural e económica?

CP – Significa um reencontro com a ordem, com a identidade e com o dever. A ascensão da direita representa a recusa do caos moral, do estatismo improdutivo e da imigração descontrolada. Trata-se de um regresso ao bom senso, à autoridade legítima e ao respeito pela cultura nacional. A nova direita afirma o que sempre foi evidente: fronteiras claras, mérito pessoal e civilização enraizada.

 

VE – Portugal prepara-se para uma viragem à direita?

CP – Sim. E em boa hora. O povo português começa a rejeitar o relativismo, o assistencialismo e a erosão da autoridade. A insegurança, o colapso dos serviços públicos e a imigração descontrolada criaram um clima de rutura silenciosa. A direita tem hoje a obrigação de resgatar os valores permanentes da nação. Esta viragem não deve ser tática, mas civilizacional. Portugal precisa de reencontro, não de rutura. De verdade, não de promessas. De hierarquia, não de improviso.

 

VE – Quais os temas políticos e económicos disruptivos que Portugal irá enfrentar nos próximos anos?

CP – Portugal enfrentará desafios sérios: a imigração descontrolada que esvazia o país de talento, o endividamento estrutural que limita a soberania orçamental, a dependência energética que fragiliza a autonomia estratégica, a destruição da indústria produtiva e a insustentabilidade do modelo assistencialista. Só com patriotismo, visão de longo prazo e coragem política será possível inverter este ciclo.