O dia 26 de Dezembro possui uma sobriedade própria que raramente é compreendida. As luzes permanecem acesas, as mesas ainda conservam vestígios da consoada, mas o espírito de suspensão colectiva terminou. O Natal passou. E com ele passou também a breve encenação anual de harmonia universal que, todos os anos, se repete com previsível fragilidade.
É neste dia que a realidade regressa, silenciosa e inexorável. Regressam as tensões familiares que uma ceia não resolve. Regressam os problemas nacionais que uma mensagem festiva não dissolve. Regressa o peso das instituições, num mundo progressivamente mais confuso, mais fragmentado e perigosamente afastado de princípios permanentes que durante séculos sustentaram a civilização ocidental.
O Natal recorda-nos a ordem, o sacrifício e a responsabilidade. O dia 26 de Dezembro interroga-nos sobre a seriedade com que essas lições foram recebidas, se como convicções duradouras ou apenas como um ritual tolerado por vinte e quatro horas, rapidamente esquecido quando regressa a rotina.
Nas últimas décadas assistimos à corrosão sistemática da autoridade sob o disfarce de uma compaixão mal compreendida. As regras passaram a ser vistas como opressão. A disciplina, como intolerância. A responsabilidade, como um anacronismo moral. Todavia, as sociedades não se desagregam no dia de Natal. Desagregam-se no dia seguinte, quando o sentimentalismo substitui a aplicação da lei e a permissividade se apresenta como virtude.
Não é por acaso que as forças de segurança raramente recebem reconhecimento no dia 26. Enquanto muitos prolongam o descanso, são elas que regressam ao serviço. São elas que enfrentam o desarranjo que a retórica festiva ignora. Onde a ideologia falha, permanece a necessidade de autoridade, coragem, hierarquia e contenção. Sem estes pilares, nenhuma comunidade se sustém por muito tempo.
O dia 26 de Dezembro deveria ser, por isso, um momento de reflexão e não de indulgência. Um dia para reconhecer que a boa vontade sem ordem conduz ao caos. Que a generosidade sem regras destrói aquilo que pretende proteger. A caridade autêntica exige responsabilidade. A verdadeira compaixão não pode existir sem respeito pela lei, pelas fronteiras e pelas instituições.
Se o Natal simboliza a esperança, o dia 26 exige seriedade. Seriedade na família. No trabalho. Na vida pública. No respeito pela autoridade legítima. Na defesa das leis. E no reconhecimento daqueles que, quando a celebração termina, permanecem de vigia entre a civilização e a desordem, muitas vezes sem aplausos e quase sempre sem compreensão.
Uma sociedade que apenas acredita nos seus valores um dia por ano não sobreviverá aos restantes trezentos e sessenta e quatro.
O dia 26 de Dezembro coloca uma pergunta simples e inadiável: estamos dispostos a viver aquilo que afirmamos defender, mesmo quando as luzes se apagam.
Aproveitem este dia fazendo aquilo que verdadeiramente sustenta uma comunidade. Honrar a família. Respeitar a lei. Defender a ordem.
César DePaço
Empresário e Filantropo
Cônsul ad-honorem de Portugal de 2014 a 2020
Fundador e CEO da Summit Nutritionals International Inc.
Presidente da Fundação DePaço
Defensor incondicional das Forças de Segurança e dos Princípios Conservadores